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terça-feira, maio 1

A primavera do Alto Alentejo


- tem seis graus, a influência ou fluência de um gesto teu sobre outrém, faz-se sentir até seis pessoas - bah, lérias
- a sério que tem, vi numa série da televisão - agora só falta dizeres-me isso por correio electrónico, e ainda me dizes que tenho de a enviar a mais seis amigos ou inimigos senão os restantes passam pra mim o mau-estar e desassossego, oh Diogo isso tem algum modo de ser modo de estar, isso tem algum jeito - na sei, mas ficaste a pensar..
a GNR os pássaros andar a 90 kilometros hora o tractor o pastor a dormitar com a cabeça caida entre os ombros o vento o sol o respirar mais prolongado fazer a mija mai sossessagada ao ar livre como se deve, este é um dos melhores cenários do alentejo, a cada passo lento me procuro a cada passo lento me descubro, o campo as pessoas as velhices as idades prolongadas o nada o tudo as doenças as virtudes os defeitos as vitórias os que foram os que são recordados o vinho o pão o queijo a azeitona o azeite o tilintar das ovelhas os carraçeiros pendurados nas árvores engolidas pela água que agora abunda,
- tem seis graus o que tu fazes,
- o Guterres quem diria pai,
graças ás barragens que se fizeram, os cães a erva daninha as favas as ervilhas as abelhas e as colmeias o vizinho (que não sei quem é),
- quem diria que esteve tão perto de nós com a decisão do alqueva ahn, quem diria o Guterres,
as tascas os petiscos o tabaco o café o abafadinho de Borba (ai o abafadinho) o calor o frio a mudança do tempo o trabalho as alentejanas que belas são as alentejanas (ou as que vão ao alentejo) a pedra mármore as pedreiras as pousadas os castelos o Paço Ducal (espero que seja patrimonio mundial) os livros os poetas as princesas a plebe o rei as traições as heranças, o rio aqui era mais pequeno antes do Alqueva agora tá um mar de água, as paisagens a calma a vontade de acordar a lareira o querer o ser o saber estar o estar sem se chatear o não querer trabalhar o trabalho a vila, é uma das vilas mais bonitas de Portugal, Vila Viçosa, a Florbela Espanca os Portas os olivais a matança do porco as ancas das alentejanas as pernas o olhar o nariz as mãos o pescoço o cabelo os dedos dos pés a falar a rir a esquecerem-se dos males,
- quem diria que ao construir a barragem o Guterres se cruza-se nas nossas humildes vidas, a mata as albufeiras as chuvas miudinhas o nevoeiro as sobremesas de frutas regadas a licores os livros a vontade de copular as páscoas festas de familia, esta zona já era bonita mas agora com o Alqueva então! pfui, as águas abundam as pessoas vêm cá ver, sim cada vez se vêem mais pessoas aí, as equipas de raguebi de futebol de onze as molduras antigas os cochichos mal disfarçados as vontades de copular os espanhois as espanholas a familia as piscinas o não se ver o mar as calças de bombazine as camisas de flanela o cheiro de fumo de lareira o fresco do campo o querer viver devagar o falar devagar o cumprimentar devagar a pressa de beber e nada mais ter pra fazer o ser capaz de agradar as anedotas as saladas o peixe do rio as bebedeiras as missas São Romão São Manços a Juromenha, passa-se a Juromenha passa-se o castelo da Juromenha é mesmo a seguir à ponte, a seguir à ponte volta aí à esquerda é aí o monte, talvez me vá apaixonar aí nesse monte, por uma alentejana daquelas que deitam cheiro de mulher trago pra'aí a bicicleta e uma data de livros,
- a primavera é altura mais bonita do Alentejo, não é pai!?
- é a época mais bonita, - são as épocas de transição são as mais bonitas não faz tanto frio nem tanto calor, é nesta altura e depois é quase até Novembro. (ao ouvir falar assim posso concluir que também ele acha que são bonitas todo o ano as alentejanas as alentejanas)
o Redondo a Vendinha Montoito os incêndios os bombeiros as pensões mal pagas os reformados as farmácias o centro da Vila as feiras os ciganos os preços das bebidas (muito baixos) a espanha o vento da espanha, sabem o que dizem ao vento que vem de espanha nem bom vento nem bom casamento, as chouriças os enchidos os cavalos as touradas de rua os toureiros de coração os loucos os palhaços os que se enquadram os que se afastam o que são de má raíz os que só fazem mal os pacatos os conversadores os bem dispostos os que se dão por felizes de estarem vivos os saudosistas os revolucionários os que vieram de África os que lá ficaram, olha onde o teu pai ficou já eu lá estava há uma remessa de tempo, os que se esqueçeram os médicos os que trouxeram marcas e tudo fazem para continuar a viver os pálidos de estarem em casa os queimados de trabalharem a pedra o branco encandescente das casas pintadas a cal, e olha a Maria passando é mesmo muito bonita, como é bonita a primavera neste também meu Alto Alentejo.

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