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domingo, novembro 22

Enquanto ele espera que caia a noite, é uma fase que ainda vive, a de que amanhã será melhor dia do que foi ontem. Não percebo muito de psicologia, mas custa-me a perceber que tipo de alternativas pode um homem ter quando não existem, matematicamente falando, as hipóteses de que carecem seus dilemas.

Os dias são longos quase intermináveis, duros demais.

Ele quer amar e respeitar todos quanto ele conhece, essa é a sua guerra, aonde poderá ir ele encontrar essa força? Sem concha ou carapaça feita de material insonoro?

Os seus testes são coisa de gente graúda no limite do que é pensar, o código de moral a simples atitude de beber a água que lhe irrigara antes as ideias o vento que lhe soprara outrora segredos e vontades, deixou-o apenas a si, a ele mesmo, o silêncio e o espaço para se bater dentro do que é esse nicho qual “Jardim de Éden”.

São outros mundos onde nada tem o mesmo sabor e as verdades nunca são sempre só verdades são sempre um lado desse quadro desenhado sem paixão ou amor onde não se entendem expressões faciais, traços de corpo humano, dedos, mãos e pés, tudo passou repintado a ouro com toque de desinteresse, panorama ou imagem, sem mais dimensão…lá vai ele, sem medo de não ser mais criança, lá vai ele sempre com a dor de crescer num mundo de pura desconfiança, relações premeditadas ao detalhe, sem cábulas ou calculadora para lidar com alternativas.

Lá vai ele, não sendo propriedade de ninguém, não de modo legal, carrega selo ou marca de quem não é mais inocente, vai, que força tem, lá vai ele, quase, quase em paz…lá vai ele…

quarta-feira, novembro 18

Fui fazer um trabalho ao Dondo um lugar a cerca de duas horas de distância de Luanda, acordei cedo perto das quatro da madrugada, quem disse que ser auditor é só conforto e esperar que caia o fim do mês, onde está essa pessoa, hum?

Esperei pelo meu colega, em casa para não descer àquelas horas, è uma cidade perigosa esta Luanda depois do recolher natural da maioria trabalhadora, desci quando vi a viatura, fomos apanhar o outro auditor da nossa equipa, ficava de caminho.

A luta deste acordar cedo, não é para chegar ao destino a horas, mas sim para sair de Luanda a tempo, antes que se engasgue na constante falta de circulação que tem qualquer estrada dentro ou para chegar a Luanda.

Escapávamos da cidade quando o sol ameaçava assomar daí que o azul do céu fosse tudo, outras cores como o violeta ou o laranja para nos calarem por alguns momentos, falava-se para espantar o cansaço, o sono que quase não houve no curto estacionamento que tivemos com o nosso conforto em casa.

São coisas lindas que há nesta Angola, desconhecida, os espaços verdes, outros secos nem tão bonitos assim, mas todos eles mágicos à sua maneira, roubando o tempo para pensar em merdas como essas de gripes e o camanu.

A ideia é arranjar ginástica mental para nos situarmos sem as preocupações citadinas que nos definem e definham, como seres humanos.

No fundo, existem pessoas como nós, cansados dessa obsessão pelo lucro fácil, gajos que querem descobrir o sabor dessa viagem que ninguém de bem quer fazer sozinho.

Chegados ao Dondo, fomos directos ao trabalho, tomámos o pequeno-almoço que é a parte mais importante de um longo dia de trabalho antes de iniciarmos funções. Terminados que estávamos fomos almoçar e logo nos pusemos na estrada de regresso a Luanda, tínhamos chegado ao Dondo cerca das 7:30h da matina e bazamos por volta das 13:30h comi um prato típico do buffet – Funje de Carne Seca, estava fantástico.

Tiramos umas fotos junto ao rio Kwanza, antes de deixarmos o lugar, balbuciamos algumas expectativas de uma vida ali, diferente, sem igual.

Na estrada vinha eu à pendura o Mário atrás e o Nataniel ao volante, ao fim de uma hora de viagem fomos mandados parar, era a polícia, parecia.

Sem que me viesse á ideia permaneci quieto, a polícia não era a polícia normal, eram uma espécie de serviços de fronteiras, dirigiram-se a mim e apenas a mim pediram a documentação, o primeiro caso de racismo puro chegava.

Ao meu lado estava um homem de estatura baixa, baixei o vidro automático, para perceber o que queria o senhor, sem dizer nada olhei-o nos olhos, esperei o gesto:

- Faculte-me os seus documentos por favor! Parecia mentira, mas era só o pendura que eles queriam importunar.

Pensei perguntar porquê a mim, mas a besta mirava-me com olhos de carneiro, lembrei-me de quando cumpria a segunda metade do serviço militar em Estremoz, para fugir de todo aquele mundo, subia até ao castelo e lá de cima via o Alentejo, encarava as ovelhas que lá pastavam, procurava os seus olhos e nada é um animal sem expressão, talvez fosse do vazio que me encontrava na altura, mas é um animal… como era este que se erguia sobre os seus membros inferiores, e ignorava os meus dois camaradas negros, para ter de mim qualquer coisa, só e apenas da minha pessoa.

Fiquei quieto por momentos como esperando que a besta se tocasse, esse vazio deu espaço a que o meu camarada que ia ao volante o interrogasse. – Faculta-me a sua identificação por favor? Como é que sabemos quem sois? Ao ouvir os argumentos vindos de dentro do carro aproximou-se a besta maior, perguntando com vontade de autoridade: - Qual é o problema? Olhando para o mulato, o mulato calado, foi o que decidi fazer, nem uma palavra queria dar a essas espécies de gente.

Saquei da minha carteira, puxei da carta de condução e pu-la na sua mão, apenas falei quando me pediu o bilhete de identificação, dizendo: - É só o que tenho.

Se queriam gasosa, não discuti, não lhes dei razão para crescerem para mim, fiz-me de gente digna, lutei em silêncio contra uma luta perdida naquele momento, é frustrante para começar… enfim, que país é esse!?

Cedo se tocaram, daqui não levaremos nada. Decidiram explicar, não a mim, a mim foi-me devolvida a carta e toda a ignorância possível à minha pessoa, explicavam ao meu colega que estávamos, em Angola, com dilemas em relação ao Congo, por causa das expulsões de angolanos desse país.

A mim nem uma boa viagem, um obrigado ou vai à merda me deram, e eu até agradeço, mas…

Bela razão pensei eu, querendo compreender o que me tinha acontecido ali, mas a malta do Congo não é na sua maioria de raça negra e sem mistura?