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segunda-feira, abril 16

tempo


o tempo é uma merda. o tempo e o dinheiro, mas tens que aproveitar estudar, viajar, conhecer, falhar tens de fazer tudo isso, só serve para quem o está a aproveitar, quando eu conseguia aproveitar as tardes até ao por-do-sol bons tempos, não podes ficar aí assim, sentir o cheiro da primavera, até parece que não tens amigos (eles só me querem ganhar), acordar cedo e tomar um leite com chocolate a pensar quem será o primeiro a acabar, vestir o pijama azul com a toalha vermelha e fazer de super-homem, vai brincar, foi a minha irmã quem nos apresentou, e ela parecia que gostava de mim, as sardas todas a olhar para mim parecendo gritar, vai jogar á bola, gosto de ti meu príncipe, gosto de ti, mas tens de estudar, Carlos tens de estudar - Oh Carlos, gritava a maltinha do meu grupo, - ola bom dia o Carlos já acordou? pa vir andar de skate connosco? - Esperem aqui que eu vou ver, ela veio logo ter comigo, nunca mais me esqueço foi o meu primeiro dia de aulas na escola mais badalada da cidade, São José, nunca mais me esqueço a vista privilegiada para a baía de Luanda, saudade - Carlos, ouvia eu chamarem-me ao longe, ao longe porque sonhava, como uma voz que se assemelha a uma flor mas não uma flor qualquer, um mal-me-quer, que oscila com bem-me-quer, - acorda Carlos, os teus amigos estão todos aí, a mãe já tem o teu leite pronto, vai lavar os dentes, sei que não conheço muito do mundo, tens de trabalhar, - possa! tu dormes! - de quem é esse skate? - é meu, - é novo? - é, ofereceu-me o meu pai que veio da França, queres andar? - quero, posso, que fixe, também quero um skate que deslize assim, mas só posso andar aqui, se o levo para aquela escola roubam-mo logo, e fiquei sem fôlego a pensar, como é que fiquei assim, tou bloqueado, mas estava só e apenas apaixonado, talvez se arranjar rolamentos do meu skate e deitar bastantes quantidades de óleo nos rolamentos a coisa resulte, queria era jogar na NBA, ou ser médico, ou ser namorado de alguém assim, como era ela, o intervalo acabou e eu só pensava quando é o próximo intervalo, pra' poder sair e ir contemplar o que era o meu ideal de felicidade eterna, a perfeição estava finalmente personificada, tenho medo, sem uma palavra me aproximava dela, foram tempos difíceis, o drama de não conseguir dizer, deixa-me andar contigo, quero andar contigo, quero viver contigo, amo-te tanto, como sempre para sempre, talvez se eu tivesse um skate que rolasse bem, que deslizasse assim ela olhasse mais um pouco para mim, e faltasse ás aulas para ficarmos sós, ou talvez se eu tivesse uma bola de basket, porque é que não pintas gostavas tanto de fazer desenhos quando eras pequeno, pensei que por ventura fosses para professor de educação física, sim! tens o cabedal! eh!, - Carlos!, ajuda o pai - sim, pode ser, - o pai vai pintar esta parte, traz o papel de jornal para esta parte, não deixes o chão a descoberto senão a tinta marca o verniz, - atentei, ia ajustando o papel de jornal, observando o rolo de pintar, ora acima ora abaixo, sem prestar atenção a nada mais, - é isso mesmo Carlos, estás a trabalhar bem, uau nunca mais me esqueço, só pensava será que algum dia a vou poder beijar, mas as pernas falhavam-me sempre que a via, houve um dia que cheguei a vomitar, no final das aulas, a minha irmã com nojo queria que eu não existisse, desistindo de mim, nunca mais me esqueço, é só dinheiro, só dinheiro, eu não vou dar o meu dinheiro a ninguém, que agonia era estar apaixonado, que agonia é estar apaixonado, vou ser outro, já o tinha decidido antes de largar a ultima jorrada de sandes mista do pão françês, com a água do cantil, que se mantinha fresca toda a manhã até ao meio dia, hora de saída, nunca mais me esqueço, - estás a trabalhar bem, a ajudar o pai, se eu trabalhar muito talvez ela goste mais de mim (e olhe pra mim), se eu trabalhar muito talvez eu já não precise que ela goste de mim (e eu possa gostar dela), que agonia é estar apaixonado ( sem me doer tanto), eu só tenho treze, ainda tenho que ser grande, - que é que queres ser quando cresceres, Carlos?, vens trabalhar comigo ao sábado não há problema, tem tanta gente que leva os filhos para o trabalho ao sábado, e além disso o Carlos sabe estar, não me apetece brincar mais, só quero pensar nela, não me quero divertir, só quero viver a agonia de estar com esta estranha sensação de estar a viver na corda bamba das emoções, equilibrado ou desiquilibrado, se trabalhar talvez eu seja mais útil ( e a consiga beijar), e pense menos em mim e pense menos nela (e beijar ela), ou nas "sabrinas" que ela tinha calçadas enquanto esperava o seu papá encostada ao muro da escola, talvez se correr mais um pouco (ela queira dançar comigo), me sinta mais homem (ou dar-me a mão), menos criança e dependente das emoções, apenas tenho treze anos, vou correr com os adultos (eles não sofrem como eu), vou estar com os adultos (como é que ela consegue), vou opinar com argumentos sólidos (nunca serei capaz), não me apetece brincar mais (eu quero uma namorada), bons tempos, os tempos em que não sabia nada da agonia de querer ser o principe do meu amor, escolhido pelo meu coração, como é que eu faço agora, se sei tudo isto, o quê? que o tempo é dinheiro? ou o espaço..

1 comentário:

Unknown disse...

adorei...!