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terça-feira, abril 29

Garoa - Bras. Chuvisco


Não, ali! Tem dias que não são normais, vê-se com cada coisa, a sair do trabalho, o gatuno que roubou o espelho retrovisor, esses mambos só lá mesmo.

Até quando uma pessoa só quer estar na janela a ver se acontece alguma coisa, vem sempre qualquer fenómeno a acontecer, maravilha, como daquela vez em que esperei, e esperei, olhando sempre em frente para o horizonte…

– A minha vista da para a baia de Luanda, e lá bem ao longe nos dias em que o céu não traz nuvens ou nevoeiro, levantado pela garoa (do Brasil, Chuvisco; Garoento- adj. Brás. Diz-se do tempo em que há garoa),

… Consigo ver as terras mais a norte de Luanda, sem determinar quais serão, imagino serem as terras fortes, dos lugares aonde o meu pai, destemido, continuava a procurar, as suas riquezas elementares, o peixe fresco saído do mar, para a canoa do Joaquim Pescador, e dai directamente para o carrinha Chevrolet que na altura o meu papá cuidava.

(Nessa carrinha, de caixa aberta, muitas boleias dávamos até chegar na praia, muitos passeios fizemos com nossos primos por afinidade, onde o povo nunca deixava passar a oportunidade de assobiar, em tom de fala, MONANGAMBÉ que significa kaxico, criado, só criado é que supostamente vai na traseira da carrinha, complexos que ainda estão presentes, desde a escravatura, e da desigualdade.)

Gosto de pensar que mais á direita estaria o Cacuaco, onde comi pela primeira vez a fruta-pinha, o sape-sape, frutas da minha terra, e que desviando o olhar fixo nesse ponto, para a esquerda, se vê a Funda, lugar de respeito, para todo o Caluanda (aquele que foi nascido em Luanda), por essa zona fortemente arborizada, e recheada de jacaré, do Rio Bengo, o rio que abastece a cidade, eu via os enormes tubos por onde passava a água, diz o ditado, que “quem bebe água do Bengo jamais se esquecerá dessa Luanda”, pura e simples que é essa a sua verdadeira essência, simplicidade no olhar, ternura no andar, mas uma força bruta da natureza, que verga o mais alto e forte de nós, pequenos, pequeninos e insignificantes homens.

Nessas tardes em que nada de novo parecia acontecer, ou o céu se tornava matreiro, hermético misterioso encabulado, eu pequeno ainda criança olhava, para o mar da baia, então notei, a cor desse mar a mudar, gradualmente, com uma simetria calculada ao pormenor, exacta matemática, riscava a baia progredindo na minha direcção, e do nada rebentava uma poderosa trovoada, que chuvada… o resto?

Aquele cheiro fresco da terra molhada, tomava conta das minhas narinas, me tocava, era ali que eu me apaixonava, sem saber que doença é essa, da água do Bengo, da manga, da kizomba, do funge, do peixe seco, aiué Angola no meu coração.

Trata só bem dos meus ya!? Que eu depois vou lá te visitar!