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sábado, maio 19

Passei primeiro por Roterdão


Fazia tempo que não me sentia assim. O uso que dei ao meu corpo pareceu tão pouco, ao ver-me na fila de revista ao pessoal, na alfandega do aeroporto de Faro, senti que estava perro, o corpo estava em forma, de uma forma, que ainda não sei explicar, estava pouco rodado, talvez, fosse apenas ansiedade.
Nesse dia, quinta-feira de 8 de Março, tinha feito uma reserva on-line, para passar a noite em Roterdão, se eu soubesse aí o que sei hoje, estava um bom dia de sol, pela manhã, fui dar um passeio até à Ilha de Faro, vinte e dois graus em Março, era de aproveitar, tinha alguma noção do que precisava nesta viagem, queria falar, que me falassem também, queria procurar um lugar, em que não me sentisse de fora, queria ler, num qualquer jardim, que me seduzisse, como eu invejo os que o fazem, fazem-no de forma tão simples que, é como soubessem por alguém lá de cima lhes ter dito, que essa era a forma certa de se fazerem as coisas que nos fazem bem, que nos dão o prazer, as pequenas coisas, que nos são dadas todo o dia ininterruptamente, mas que poucos as sabem aproveitar.
Queria mais qualquer coisa, mas ainda bem que se quer sempre mais qualquer coisa, quando se vai de viagem, é sinal, que algo de bom hão-de de trazer para casa.
Chegou a minha vez de ser revistado, a senhora, vestida com a farda castanha de segurança, dirigiu-se a mim em inglês, eu ainda estava em casa, mas já me sentia noutro lado, a partir daí ganhei uma maior consciência, mais europeia, sentei-me, num café, bebi uma água fresca, agitavam-se as mesas com pessoas a entrarem, a sentarem-se, a chegarem, a partirem, levantando-se com as bagagens de mão, atrás de si, deixavam mesas vazias de guardanapos usados com restos do que tinham bebido do que tinham comido, peguei no meu livro, ouvia musica dos meus auscultadores, conseguia namorar sozinho, como se o tempo fosse abrandando, a meu bel prazer, podia, observar, facilmente as movimentações no aeroporto, na mesa ao meu lado, sentou-se um homem nos seus cinquenta anos, ao estilo alemão, postura atlética, de rosto fechado, partilhamos, o que seria o meu primeiro momento de contemplação, no meio das nossas mesas, entre a frenética agitação, tínhamos um pardal, um passarinho, corajoso, que se entretinha, a colher os pequenos bocados de pão, deixados pelos putos, que não têm boca para morder os hambúrgueres, que os pais lhes traziam, pensei para mim, daqui, me vou guiar, este será o meu pêndulo, pequenas amostras de sobrevivência, pequenos glances do que é o mundo dos seres vivos.
Subitamente, acabado o espectáculo, levantei-me, fui circular, ver as free-shops de relógios, de perfumes para homem.(...)

| a foto tirou o Russo em Bruxelas|

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